Desde que cheguei aos Estados Unidos em 2003, eu me surpreendi com o fato que criança em frente de televisão não era a norma. Totalmente o contrário de como acontece no Brasil, onde nossas babás eram Xuxa, Angélica ou talvez a Mara Maravilha, na televisão – risos.
Atualmente, o problema nem é só a televisão. É o celular, os tablets, os videogames… as babás são Fortnite, Minecraft, TikTok, Instagram, Youtube, e uma infinidade de outros programas e jogos que muitos pais ainda nem fazem ideia do que se trata.
Você, com certeza, conhece uma criança pequena que passa muito tempo utilizando a tela do celular ou do computador como um brinquedo ou uma distração. Essa é uma forma que os pais usam para os manterem quietos e, isso, tem sido intensificado, ainda mais, durante a quarentena. Eu entendo que muitos pais precisam trabalhar de casa e as crianças estão em instrução virtual da escolinha, além do trabalho dobrado de ter que dar conta de tudo e se habituar a esse novo estilo de vida. No entanto, devemos nos atentar sobre as consequências de criarmos esses hábitos, transferindo a educação, o brincar, e o tempo que deveríamos dedicar aos nossos pequenos para as telas.
O que dizem os órgãos de saúde
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), crianças com menos de um ano não devem utilizar telas ou eletrônicos como uso recreativo. Recomendando, também, que essas crianças não sejam expostas a telas de forma passiva. Já a Sociedade Brasileira de Pediatria, assim como nos Estados Unidos e no Canadá, recomenda que essa restrição seja até os dois anos. No caso, das crianças de 2 a 5 anos, é permitido usar até 1 hora por dia e, os maiores de 5 anos, no máximo 2 horas. Esse período não deve ser direto e, sim, intercalado, além de ter pausas a cada 20 minutos, para que os pequenos possam se movimentar e fazer outras atividades que exigem esforço físico.
Risco à saúde
Eu ainda me lembro quando meu irmãozinho – hoje com 30 anos, rs – grudava em frente a tv. Nem piscava! O resultado: Com menos de 4 anos de idade, ele desenvolveu estrabismo. Eu mesma comecei a usar óculos aos seis anos de idade. A miopia infantil tem tido cada vez mais casos em todo mundo, sobretudo por conta do aumento de tempo de uso de telas dos pequenos.
O uso de tela, também, evita que a criança brinque se movimentando, causando sedentarismo e resultando em um aumento de obesidade infantil. Afeta também outras áreas da saúde como a parte neurológica, que é fundamental para um desenvolvimento saudável.
Ao nascer, já temos bilhões de neurônios, porém, eles ainda não estão conectados entre si. Essa conexão ocorre nos primeiros anos de forma muito intensa, é o que chamamos de sinapse. E são, justamente, elas que nos dão a capacidade de desenvolver nossa cognição e as habilidades motoras, fundamentais para o desenvolvimento infantil.
Uns dos fatores determinantes para que o seu pequeno crie sinapses com a frequência correta são os vínculos afetivos e os estímulos criados ao conviver com pessoas. Conviver e se relacionar. Por isso, o uso de telas em crianças menores de dois anos pode causar até tardamento do desenvolvimento. Sem dizer que ainda pode facilitar o desenvolvimento de doenças psiquiátricas, baixo desempenho escolar, dificuldades no desenvolvimento da linguagem e outros problemas à saúde psíquica e física do seu pequeno.
Outro ponto importante é entender qual a origem desse hábito da criança que, muitas vezes, vem do exemplo dos pais. Por falta de conhecimento do grande malefício que causa aos pequenos, muitos pais não se opõem aos filhos se exporem a essas tecnologias. Apesar de termos esses eletrônicos para entretenimento e até mesmo trabalho, não podemos deixar esses hábitos afetarem a educação dos nossos filhos. Vale ressaltar que a criança aprende pela imitação e recriação do que as pessoas que convivem com elas fazem. É muito comum observarmos adultos no celular ao invés de estarem ali, realmente brincando e interagindo com a criança.
O uso é cada vez mais precoce
Os estudos sobre o assunto afirmam que o acesso das crianças à tecnologia tem sido cada vez mais precoce, para as manterem distraídas e os pais livres para fazerem suas atividades. Esse comportamento é chamado de distração passiva, o termo é usado por ser, justamente, o oposto de brincar de forma ativa e interativa, se comunicando com o mundo ao redor – atividade essencial para o desenvolvimento da criança. A criança precisa de estímulos reais nos seus primeiros mil dias de vida para que o seu cérebro possa amadurecer de forma saudável.
Outro ponto que é prejudicado devido o uso dos eletrônicos é a qualidade do sono que, principalmente nessa idade, determina muito sobre o desenvolvimento e a qualidade de vida do seu pequeno no futuro. E a exposição a luz azul, usada nesses aparelhos podem gerar a perda do sono e desregularizar a sua rotina. Portanto, usar os eletrônicos perto do horário de dormir e durante a noite prejudicam ainda mais.
Dicas de educação no mundo digital
Para preservar a saúde dos pequenos em diversos aspectos e definir o tempo máximo de uso dos eletrônicos, a Sociedade Brasileira de Pediatria criou um manual para que os pais aprendam a melhor forma de lidar com o mundo digital, o convívio familiar e a educação infantil.
Aqui estão algumas:
- Não deixe que crianças e adolescentes se isolem em quartos que possuem TV, computador, tablet e celular. Controle o uso em locais de comum acesso na casa;
- Independente da idade, não devemos usar telas durante as refeições e nem uma ou duas horas antes de dormir;
- Sempre que a criança quiser brincar com as telas, lhe dê outras opções de brincadeiras que não utilize eletrônicos, por exemplo, ao ar livre e que tenha contato com a natureza;
- Crie regras e horários para o uso de equipamentos que gerem desconexão e afastamento do convívio familiar;
- Use senhas para que possa restringir o seu pequeno a ter acesso a conteúdo adulto.