Acredito que nunca pensávamos que iríamos ficar tanto tempo em isolamento. Que em novembro estaríamos ainda isolados em casa, com as escolas fechadas e nossos pequenos tendo, apenas, aula online. Acredito poder dizer com convicção que o maior malefício desta pandemia foi em nossa saúde mental. Se nós, adultos, ficamos abalados com tanta mudança repentina, apesar de entendermos tudo o que vem acontecendo, e ainda assim, encontramos muita dificuldade de manter o equilíbrio nesses momentos, imagine nossos pequenos?
Vários estudos feitos em instituições renomadas, comprovaram que os nossos pequenos têm sofrido muito com o isolamento, devido à mudança de rotina e a falta de convívio com as pessoas, que é muito importante para desenvolver sociabilidade. Muitas vezes, pensamos que essas mudanças não afetam as crianças, sobretudo as pequenas, por não entenderem a gravidade da situação. Esse é, infelizmente, um pensamento errôneo.
Na primeira infância, nossas conexões neurais têm um ritmo muito rápido e são altamente influenciadas pelo ambiente em que vivemos e interações pessoais. Sabemos também que mudanças no ambiente e relações sociais afetam o emocional. Logo, ao ter cuidadores estressados, o efeito é em cascata e, futuramente, isso pode ter consequências bem tóxicas.
Quando a criança vive em um ambiente com poucos estímulos, ela acaba ficando muito estressada. Na maioria dos casos, não conseguimos identificar o que está acontecendo, por conta da dificuldade das crianças entenderem e saberem expressar o que sentem. No entanto, isso é internalizado e externalizado de diversas formas; precisamos nos atentar que a primeira infância é o período em que há mais desenvolvimento cerebral e é quando a mente é mais afetada pelo que acontece ao seu redor.
Consequência difíceis
Crianças aprendem por imitação e é importante que você seja um exemplo de como lidar com os momentos difíceis. Em estudos que têm sido desenvolvidos sobre o tema, nos alertam que devemos cuidar da saúde mental como uma prioridade, durante e após a pandemia, principalmente das nossas crianças e adolescentes. Podemos pensar não ter sofrido ou que não nos abalamos em nada. Mas, isso pode ser por agora, e o resultado dessa fase difícil aparecerá só depois.
É importante se atentar às mudanças de comportamento do seu filho – ele tem apresentado algum comportamento que pode ser preocupante? Reclama de alguma dor ou incômodo, ou medo sem qualquer justificativa aparente? Nós tendemos a pensar que mudanças comportamentais das crianças podem ser devido à idade, birra ou uma forma de chamar atenção. Porém, no presente momento em que vivemos, provavelmente não.
Fique atentx
Nossos pequenos quase sempre não sabem expressar o que estão sentindo e alguns comportamentos ou alterações no organismo podem ser devido ao estresse do isolamento que essa pandemia nos causou. Alguns exemplos que posso citar são: muito choro, estresse por motivos banais, ansiedade, insônia, falta de apetite, cansaço, regressão (como precisar usar fraldas novamente ou voltar a usar chupeta), desenvolver alguma mania como morder coisas ou até mesmo sintomas físicos como dor de cabeça ou no corpo, sonolência excessiva, alergias, febre entre outros.
Todas essas mudanças são sinais importantes que devemos prestar atenção porque sugere que algo pode estar errado. Geralmente, só identificamos que algo não está bem com as crianças, quando elas sofrem com somatização, já que não sabem lidar ainda com o que sentem. O corpo acaba sendo afetado pela sobrecarga, sendo essa uma forma dela sinalizar que seu emocional precisa de atenção.
Por isso é sempre importante estar aberto a ouvir o seu filho, criar espaço para que a criança demonstre, em seu jeito, o que lhe afeta; leve a sério o que ela diz ou sente, mesmo que ainda não saiba se explicar direito. Identificar os sinais é fundamental para saber qual é a real causa do problema, como resolver e como buscar ajuda de um profissional, caso julgue necessário.
Sempre há uma solução
A melhor forma de amenizar todas essas consequências de fases difíceis é se cuidar também, fazer com que toda família fique bem para que não cause tanta desarmonia. É possível melhorar os sintomas de diversas formas: passe um tempo com atenção individual com o seu pequeno todos os dias, nem que seja uma horinha. Tenha sempre um olhar atento quando estiverem passando por momentos difíceis, assim, você identifica rapidamente qualquer mudança, evitando chegar ao ponto da somatização. Ensinar seu filho a reconhecer e saber explicar ou expressar o que sente, também, é importante, para que isso aconteça converse sempre e bastante com ele. Além disso, o melhor e mais eficaz remédio que nos faz sentir bem: brincar! Através da brincadeira, as crianças expressam muito o que se passa dentro delas, inconscientemente. Então, preste atenção e priorize esse tempo de brincadeira com seus filhos.